José Maria Ferreira de Castro (24/05/1898, Oliveira de Azeméis — 29/06/1974, Lisboa).
Biografia de Ferreira de Castro
Ferreira de Castro, aos oito
anos perdeu o pai e aos doze emigrou para o Brasil, com as escassas luzes da
instrução primária e uma grande vontade de vencer.
Aportou em Belém do Pará,
de onde seguiu para a floresta amazónica e aí trabalhou como um adulto no
seringal Paraíso, na margem do rio Madeira.
Travou conhecimento com a
miséria, com o sofrimento, com a degradação de homens encarados por outros
quase como animais. Foi essa rica e tumultuosa experiência que lhe permitiu vir
a escrever A Selva.
A luta pelo sustento diário
Quando quatro anos depois
Ferreira de Castro tornou a Belém, teve de lutar pelo sustento diário e assim
se sujeitou a afixar cartazes nas paredes da cidade e a fazer várias tarefas a
bordo de navios.
Ao mesmo tempo exercitava-se
na escrita. Aos catorze anos redigia o seu primeiro romance e tanto teimou que
conseguiu editá-lo e vendê-lo em fascículos, da mão à mão.
Começou também a
colaborar em vários jornais.
Regresso a Portugal
De regresso a Portugal,
em 1919, fundou a revista A Hora, foi diretor do hebdomadário O Diabo,
e redator do jornal O Século e da revista ABC.
Mais tarde, nos anos 60,
já com grande aura de romancista, havia de ser eleito presidente da direção da Sociedade
Portuguesa de Escritores, depois de Aquilino Ribeiro e de Jaime Cortesão.
O Realismo Social de Ferreira de Castro
Entre 1922 e 1927,
publicou várias obras menores, que depois viria a renegar e nas quais procurava
o inédito da intriga e a excecionalidade das personagens, ao gosto da época,
até se aperceber de que o seu verdadeiro caminho se encontrava no realismo
social.
Emigrantes (1928)
A sua obra autêntica
inicia-se verdadeiramente em 1928, com Emigrantes, romance em que um
típico representante do campesinato português, Manuel da Bouça, luta arduamente
no Brasil pela conquista da sua independência, logrando apenas salvar-se da
miséria por um triz, e acaba por vir encontrar milionário, na sua terra, o
homem que o explorara sem dó nem piedade, a ele e a outros emigrantes.
A Selva (1930)
A Selva, de 1930, tem a
força das vivências profundas, a memória do seringal Paraíso, uma narrativa
matricial, relato comovedor e por vezes poético da escravização de seres humanos,
agrilhoados à floresta da borracha pelas dívidas que vão contraindo.
A descrição do incêndio,
com as suas cores de vingança, é deslumbrante, como o são as anotações da selva
amazónica.
Jamais Ferreira de Castro
igualaria esta obra-prima, embora se tenha multiplicado em livros de forte
marca social.
Eternidade (1933)
Eternidade, de 1933, que
tem cenário ilhéu, mescla ainda um pouco o romanesco sentimental com aspetos de
realismo naturalista e assinala-se pelo lugar que concede à Revolta da Madeira,
o povo em fúria contra a Guarda Republicana.
Terra Fria (1934)
Terra Fria, de 1934, é um
belo romance rural, com uma história de adultério entre um «americano» de
torna-viagem e uma camponesa casada, livro forte, sóbrio, que se passa em Trás-
os-Montes, com muito de investigação in loco, à maneira de Zola.
Outras obras
É em A Lã e a Neve,
de 1947, que se observa na obra de Ferreira de Castro a influência do neorrealismo.
Curiosamente, tendo ele, em certos aspetos, como a eleição de personagens e
cenários, sido precursor do neorrealismo, acaba por sofrer-lhe o influxo
metodológico, inter-relacionando existências humanas e processos de trabalho,
estruturas económico-sociais, como o faz em A Lã e a Neve — a
pastorícia, a tecelagem, nas faldas da serra da Estrela.
Em A Curva da Estrada,
de 1950, apresenta-nos Ferreira de Castro um socialista espanhol, o Dr.
Soriano, a braços com desencantos e ambições, cobiçado pela direita, mas que no
final se recusa a trair. A figura exemplar desse romance é Pepe Martinez, que
acredita no amor pelos outros e num futuro de justiça.
Obras menores de Ferreira
de Castro, com muito de jornalismo, mas que tiveram grande êxito aquando da
publicação, foram A Volta ao Mundo (1944) e As Maravilhas Artísticas
do Mundo (1959-1963). Partilhando em vida o prestígio e a fama de grande
escritor com Aquilino Ribeiro, Ferreira de Castro nunca se impôs, contudo, pela
pureza e beleza do estilo, antes valendo as suas obras pela arquitetura, pela
reprodução de sentimentos e ações e por um grande impulso humano de comunhão
universal. Há muito disso num dos seus melhores livros, A Missão (1954),
conjunto de novelas onde nos aparecem a Resistência em França no interior de um
convento, lendas, dramas, um bordel, pequenos e grandes infortúnios. Em 1968,
Ferreira de Castro, na sua última obra, O Instinto Supremo, deixou como
que uma despedida à Amazónia: um romance antirracista e com veementes
preocupações ecológicas
Obra de Ferreira de Castro
- Emigrantes (1928)
- A Selva (1930)
- Eternidade (1933)
- Terra Fria (1934)
- Pequenos Mundos, Velhas Civilizações (1937)
- A Tempestade (1940)
- A Volta ao Mundo (1940 e 1944)
- A Lã e a Neve (1947)
- A Curva da Estrada (1950)
- A Missão (1954)
- As Maravilhas Artísticas do Mundo (Vol. I) (1959)
- As Maravilhas Artísticas do Mundo (Vol. II) (1963)
- O Instinto Supremo (1968)
Obras da Adolescência e Juventude
- Criminoso por Ambição (1916)
- Alma Lusitana (1916)
- Rugas Sociais (1917)
- Mas ... (1921)
- Carne Faminta (1922)
- O Êxito Fácil (1923)
- Sangue Negro (1923)
- A Metamorfose (1924)
- A Boca da Esfinge (1924)
- Sendas de Lirismo e de Amor (1925)
- O Drama da Sombra (1926)
- A Epopeia do Trabalho (1926)
- A Morte Redimida (1925)
- A Peregrina do Mundo Novo (1926)
- A Casa dos Móveis Dourados (1926)
- O voo nas Trevas (1927)
- Sim, uma Dúvida Basta (1936)- publicado em 1994
- O Intervalo (1936)- publicado em 1974
- Os Fragmentos (1974)
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