Afonso Lopes Vieira foi um poeta português nascido em Leiria em 26 de janeiro de 1878.
Vida de Afonso Lopes Vieira
Filho de um advogado, em 1884 veio com a família para Lisboa, Rodrigues Cordeiro, seu tio-avô, e como aluno particular do Dr. Leite de Vasconcelos, tomou o gosto pela literatura e pelas tradições populares portuguesas.
Tendo seguido um curso de Direito em Coimbra entre 1895 e 1900, voltou a Lisboa como advogado, passando em 1902 a exercer o cargo de redator da Câmara dos Deputados, cargo que deixa em 1916 para se entregar à sua vocação de poeta e divulgador da cultura portuguesa.
Com algumas viagens ao estrangeiro de permeio, reparte o seu tempo entre Lisboa e a sua casa de São Pedro de Muel, que lhe serve de tertúlia e que tanta importância terá tido no seu trabalho poético.
Tendo desenvolvido muitas das suas atividades culturais no seu distrito, tornar-se-á presidente da Assembleia Geral da Casa do Distrito de Leiria, a partir de 1938.
Poeta do saudosismo, o seu primeiro livro de versos (Para quê?, 1897) data do seu tempo de estudante em Coimbra, onde também publicou algumas poesias na revista estudantil O Cenáculo (1894-1895), usando o anagrama de Israel Ivope.
Estilo literário
Afonso Lopes Vieira não tinha ainda definido o seu estilo pessoal, perfilando um lirismo com traços decadentistas, e denunciando particularmente a influência de António Nobre.
Em Náufrago (1898) e n’O Poeta Saudade (1901) já esse decadentismo se dilui, pela via da identificação do poeta em crise com o próprio país, o que aponta o caminho para o lusitanismo que marcará toda a sua obra posterior.
Esta fase inicial em que se inscrevem também algumas obras inspiradas pela vida académica, dará lugar a uma outra de feição anarquista, em que sobressai a novela Marques (História de Um Perseguido), redigida em 1903. Esta novela de pendor tolstoiano, que marca o intervalo ficcionista de Afonso Lopes Vieira, faz lembrar o Raul Brandão de Os Pobres (1906), pela atenção condoída que dedica aos miseráveis que se arrastam pela vida. Atacada pela crítica, é posta de lado pelo próprio autor que, no entanto, dela extrai o poema Conto de Natal, com o mesmo caráter de protesto social.
O inconformismo de Afonso Lopes Vieira
Este inconformismo, de tintas por vezes libertárias, manifestar-se-á em várias ocasiões, nomeadamente no Auto da Sebenta, de 1899, na conferência «O povo e os poetas portugueses», de 1910, no poema anti belicista «Ao soldado desconhecido» (1921), que lhe valerá uma primeira passagem pela prisão e, em 1935, na edição semiclandestina das Éclogas de agora, poema de oposição a todos os totalitarismos (vide Écloga IV).
De anarquista a monárquico
De anarquista antes de 1910, a monárquico durante a Primeira República, ou rebelando-se, embora timidamente, contra o Estado Novo, Afonso Lopes Vieira sempre perfilhou um liberalismo independente, que fez com que nunca a ele formalmente aderisse.
A causa por que luta é sempre a da pátria, que na sua obra se elevará acima de todos os poderes constituídos.
Assim, colaborará, por exemplo, com António Sérgio na publicação da revista Homens Livres (1923), do grupo da Biblioteca Nacional e, logo a seguir, na da Lusitânia. Ambas as revistas proclamavam abertamente ser independentes.
Todavia, Afonso Lopes Vieira é ideologicamente um moderado e a sua obra apresenta-se globalmente com um cariz conservador, apontando para um nacionalismo tradicionalista, que lhe valeu os elogios de um António Sardinha e o epíteto de «neo-Garrett» por parte de Alberto de Oliveira.
Obra literária de Afonso Lopes Vieira
A obra literária de Afonso Lopes Vieira é, muitas vezes, fruto ou preparação de uma intensa atividade cultural, exercida fora do seu gabinete de trabalho. É nesse contexto que o vemos dinamizar uma «campanha vicentina» revivificadora das velhas peças de mestre Gil, postas em palco entre 1910 e 1913; promover os «serões de Alcobaça», em que se conjugam literatura, música e defesa do primitivo património nacional; saudar o restauro dos «painéis de São Vicente»; incitar à prática de um canto coral baseado nos romanceiros.
Lista das obras publicadas
· Para quê? (1898)
· Náufrago - versos lusitanos (1899)
· Auto da Sebenta (1900)
· Elegia da Cabra (1900)
· Meu Adeus (1900)
· Ar Livre (1906)
· O Poeta Saudade (1901)
· Marques - História de um Peregrino (1904)
· Poesias Escolhidas (1905)
· O Encoberto (1905)
· O Pão e as Rosas (1910)
· Gil Vicente - Monólogo do Vaqueiro (1910)
· O Povo e os Poetas Portugueses (1911)
· Rosas Bravas (1911)
· Autozinho da Barca do Inferno (adaptação) (1911)
· Os Animais Nossos Amigos (1911)
· Canções do Vento e do Sol (1912)
· Bartolomeu Marinheiro (1912)
· Canto Infantil (1913)
· O Soneto dos Túmulos (1913)
· Inês de Castro na Poesia e na Lenda (1914)
· A Campanha Vicentina (1914)
· A Poesia dos Painéis de São Vicente (1915)
· Poesias sobre as Cenas de Schumann (1916)
· Autos de Gil Vicente (1917)
· Canções de Saudade e de Amor (1917)
· Ilhas de Bruma (1918)
· Cancioneiro de Coimbra (1920)
· Crisfal (1920)
· Cantos Portugueses (1922)
· Em Demanda do Graal (1922)
· País Lilás, Desterro Azul (1922)
· O Romance de Amadis (1923)
· Da Reintegração dos Primitivos Portugueses (1924)
· Diana (1925)
· Ao Soldado Desconhecido (1925)
· Os Versos de Afonso Lopes Vieira (1928)
· Os Lusíadas (1929)
· O Poema do Cid (tradução) (1930)
· O livro do Amor de João de Deus (1930)
· Fátima (1931)
· Poema da Oratória de Rui Coelho (1931)
· Animais Nossos Amigos (1932)
· Santo António (1932)
· Lírica de Camões (1932)
· Relatório e Contas da Minha Viagem a Angola (1935)
· Éclogas de Agora (1937) (livro proibido até 25 de abril de 1974)
· Ao Povo de Lisboa (1938)
· O Conto de Amadis de Portugal (1940)
· Poesias de Francisco Rodrigues Lobo (1940)
· A Paixão de Pedro o Cru (1940)
· Onde a Terra se Acaba e o Mar Começa (1940)
· O Carácter de Camões (1941)
· Cartas de Soror Mariana (tradução) (1942)
· Camões (filme de 1946) (argumento)[22]
· Nova Demanda do Graal (1947)
· Branca Flor e Frei Malandro (1947)
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